segunda-feira, 4 de outubro de 2021

“muros que dividem” e precisam ser rompidos

 

soka gakkai

Estou neste momento em Berlim [Alemanha], onde há 20 anos houve a queda do muro que separava o leste do oeste. Reli nossas correspondências trocadas até agora. Agradeço profundamente ao senhor por ter aberto o seu coração a um jovem inexperiente como eu.

Passaram-se anos depois que o símbolo da Guerra Fria desapareceu na Alemanha. Porém, parece continuar a existir ainda agora muitos muros na sociedade humana. Em meio a isso, parece ser muitos os casos em que os confrontos baseados em equívocos vêm sendo preservados como fósseis. (...)

Não feche os olhos: inicie um diálogo com coragem

Não é correto fechar os olhos para as pessoas que estão ao lado, qualquer que seja a circunstância. Desejei derrubar a parede por meio da realização de um diálogo com a sua própria pessoa [Daisaku Ikeda], que vem exercendo grande influência nas várias esferas da sociedade e do mundo.

Eu tinha a expectativa de que surgisse neste processo a imagem de um ser humano que fosse diferente da que a mídia em geral divulga a seu respeito. Esta expectativa não me foi traída. Durante a troca de correspondências até agora, foi-me transmitido a proeminente erudição e profunda visão e discernimento que o senhor tem a respeito das dificuldades e das alegrias cotidianas e da maneira correta de uma pessoa viver a vida. Senti também que o senhor tem pensamentos diversos sobre os méritos e deméritos de uma organização.

Graças a isso, sinto que consegui visualizar um pouco mais além do muro. Realmente, muito obrigado. Agradeço do fundo do coração.

Li com profunda impressão a sua carta transbordante de calor enviada de Berlim.

Conforme registrado nela, tanto a vida como a sociedade são uma sucessão de lutas contra os muros e paredes que se levantam.

A neurociência estudada pelo senhor me transmite a disposição de que quanto mais muros houver, maior o desejo de querer emanar a sabedoria para transpô-los.

Fui eu quem senti uma nova inspiração e aprendi muito por meio desta troca de correspondência com o senhor. Agradeço-o do fundo do coração.

Ao ler a carta, lembrei-me do dia da minha primeira visita a Berlim, em outubro de 1961. Havia se passado dois meses do início da construção do muro da separação, que se tornou o símbolo do confronto leste-oeste.

Em frente ao Portão de Brandemburgo, soldados armados faziam guarda e caía uma chuva fina. Circulavam veículos blindados e estava em vigor o estado de alerta.

Tinham sido colocados buquês na rua Bernauer, a linha divisória entre leste e oeste. Eram flores oferecidas pelos cidadãos em homenagem às pessoas que morreram saltando dos prédios tentando fugir para o outro lado. As marcas de tiros eram mantidas, numa visão dolorosa.

Também não esqueço que um senhor, o motorista que me conduziu, contou com lágrimas a amargura de ter sido separado dos parentes.

Eu jurei em meu coração, junto com os jovens que me acompanhavam:

— Qualquer que seja o muro do imenso poder político, não conseguirá separar o coração. Se mantivermos a união de coração com coração por meio do poder da palavra, sem falta eliminaremos este muro.

Eu estava então com 33 anos. Impulsionado pela paixão dos meus jovens dias, vim criando e expandindo no mundo, como cidadão comum, ondas e mais ondas de diálogo.

Após 28 anos, o Muro de Berlim foi destruído pelas mãos das pessoas do povo, que se levantou. Essa ação provou que problemas criados pelos homens podem ser solucionados pelos homens.

Foi depois de dois anos da queda do muro que me encontrei com o primeiro presidente da Alemanha reunificada, Richard Karl Freiherr von Weizsäcker, que tomou a liderança na transformação da história. Perguntei ao presidente:

— Muitas pessoas dizem que o Leste deve aprender com o Oeste. No entanto, o que gostaria de perguntar é, em quais pontos o Leste é superior ao Oeste?

O presidente filósofo compreendeu o sentimento que estava contido nesta pergunta, e falou-me sobre o respeito que ele tem pela riqueza da cultura espiritual, como a capacidade de solidariedade dos povos do Leste. E então concluiu: “O importante é respeitar-se e observar-se mutuamente. Não é perdoável desdenhar o outro”.

Passaram-se dez anos após adentrarmos no século 21. Aprender mutuamente com pessoas diferentes e respeitar-se mutuamente — a humanidade não estaria exatamente agora recebendo o momento em que todos devem levantar-se juntos neste solo em comum?

Ainda existem vários “muros que dividem” que precisam ser rompidos ligando os corações e unindo as forças.



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