sexta-feira, 17 de setembro de 2021

recompensas de uma longa vida jovial

 

daisaku ikeda

Certa vez, um escritor francês comparou a vida ao fluxo de um rio: a juventude é como uma torrente; a maturidade, um rio veloz, e a velhice, um grande canal que reflete, assim como um espelho, a paisagem ao redor até, finalmente, desembocar no oceano.

Cada pessoa experimenta a transição da infância para a adolescência, a juventude, a maturidade e, finalmente, a velhice. Na juventude, somos impetuosos como uma torrente. Na maturidade, temos que enfrentar as crescentes responsabilidades na família e na sociedade. A fase seguinte é de profunda reflexão sobre o significado da vida, um período de sabedoria e finalização. E então chegamos à síntese final quando, do ponto de vista da velhice, temos que encarar a face da morte.

Provavelmente, morrerei antes de ter a chance de conhecer cidades ricas em história e cultura, de conhecer muitas pessoas e de trocar ideias com homens e mulheres com os quais compartilho uma humanidade que transcende as fronteiras de espaço e tempo. E antes de ler os muitos livros que desejo. Durante certo tempo, esse pensamento me deixou profundamente triste, mas agora se dissipou.

 Essa mudança foi causada por algum acontecimento?

Em vez de buscar o novo e o desconhecido, fui — talvez pela trigésima vez — a Paris, onde adoro caminhar a esmo nas ruas e nos parques. Subitamente, percebi que o que eu precisava era viver mais intensamente e saborear o conhecimento que havia sido concedido a mim. Percebi que tinha que superar em meu interior as limitações que pareciam estar me sufocando. Após a corrida ofegante, eu precisava descobrir o ritmo da respiração lenta e profunda.

De repente, estava com 60 anos, antes de ter tentado imaginar ou mesmo perceber esta fase. Senti um desejo ainda maior de trocar ideias com pessoas mais jovens. Meu objetivo não era apenas ensinar-lhes aquilo que eu sabia mas aprender com elas e, quem sabe, não envelhecer rápido demais. Queria evitar que minhas sensibilidades sumissem muito depressa estimulando-as por meio de associações com os mais novos. É impossível ensinar por mais de quarenta anos e não ser profundamente afetado por isso! Percebi que aprendemos ensinando e que podemos ensinar com paixão e transmitir o prazer de aprender somente se preservarmos nossa própria sede pelo aprendizado. Penso que as sociedades e os indivíduos precisam estabelecer novos relacionamentos entre as gerações.


É exatamente isso que a famosa exortação “conhece a ti mesmo” quer dizer. O senhor não somente redirecionou sua vida como descobriu seu verdadeiro eu.

O objetivo do budismo também é o autoconhecimento. Para encontrar seu verdadeiro eu, Sakyamuni abandonou a vida na realeza e os prazeres mundanos e enfrentou terríveis privações. Depois, rejeitou o ascetismo e começou a defender um modo de vida que transcende os extremos da autoindulgência e da autonegação. Saboreando o Caminho do Meio, ele se tornou iluminado e descobriu seu eu cósmico, que nós chamamos de buda. E assim foi o início da missão do Sakyamuni de salvar todos os seres vivos.

Bourgeault: O amor, a amizade e o encontro com as pessoas tornaram-se mais importantes do que nunca para mim. Passei a dar mais valor ao privilégio de ensinar.

Ikeda: Sakyamuni é, algumas vezes, chamado de Mestre da Humanidade. No pensamento budista, a compaixão é um processo de eliminar o sofrimento e conceder a felicidade. Isso sugere compartilhar os quatro sofrimentos, triunfar sobre eles e conquistar a verdadeira felicidade. Originalmente, a palavra compaixão significava amizade. A compaixão, a amizade e o encontro com outras pessoas são símbolos da juventude e recompensas de uma longa vida jovial.


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