Vamos dialogar agora sobre a Declaração Universal dos Direitos Humanos, — o eterno modelo de um ideal comum a toda a humanidade. Embora tenham decorrido 45 anos [1993]2 desde a sua aprovação, os direitos humanos continuam sendo um tema de grande destaque nos dias atuais.
O senhor cumpriu uma importante tarefa na elaboração da Declaração Universal e, ainda hoje, continua exaltando sua importância. O senhor é realmente um “promotor” do espírito que se encerra nos direitos humanos.
Já houve, até agora, outras Declarações dos Direitos Humanos3 na França e nos Estados Unidos, mas a Declaração Universal dos Direitos Humanos é aquela que é aceita em qualquer país. É um documento que garante a dignidade a todas as pessoas.
Essa declaração é uma cristalização da vontade dos povos do mundo em busca da paz para nunca mais se repetir a tragédia da Segunda Guerra Mundial.
É exatamente isso. Até então, os povos tiveram de enfrentar, em virtude da negação sistemática e violenta dos direitos humanos, a terrível contingência de uma guerra sem paralelo na história da humanidade que trouxe sofrimentos indizíveis e sem precedentes.
O militarismo japonês causou um sofrimento inimaginável para a população dos países da Ásia e do Pacífico. Por outro lado, na Europa, o nazismo alemão e a Itália dominada por Mussolini4 invadiram os países vizinhos e violaram os direitos humanos. É uma história que jamais podemos esquecer.
A lição que aprendemos dessa guerra que, a exemplo do que aconteceu em Hiroshima e Nagasaki, colocou em perigo o destino da humanidade é que se deve afastar a possibilidade de utilização do poder das armas nucleares, bem como evitar de forma absoluta a eclosão de uma nova guerra. Para isso, há a necessidade de emitir um alerta para toda a humanidade. O ser humano, independentemente das leis de sua pátria, é titular de direitos que nascem da sua condição humana e, por isso, deve ter proteção universal.
Quando estive em Los Angeles, visitei o Centro Simon Wiesenthal5 no dia 31 de janeiro de 1993 e conheci o Museu da Tolerância,6 onde está exposto o Holocausto.7 Pude ver o portão de ferro e as câmaras de gás do campo de concentração de Auschwitz8 reconstituídos na exposição. Como o homem pode ser tão cruel com seus semelhantes? Fiquei extremamente indignado diante daquele desumano cenário e firmei ainda mais minha decisão de lutar pelo bem do futuro.
Os horrores cometidos durante a Segunda Guerra Mundial despertaram a consciência dos povos para a necessidade urgente de evitar sua repetição por meio da ampla definição dos direitos do ser humano que, de certo modo, foram colocados acima dos regimes e sistemas políticos nacionais e considerados uma emanação superior e inalienável do ser humano, inerente à racionalidade e aos valores espirituais que o caracterizam.
Temos de envidar todos os esforços para que uma história tão triste não mais se repita.
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