domingo, 26 de setembro de 2021

A morte também não é estática

 

soka gakkai

Acredita-se que as primeiras formas de vida terrestre tenham surgido há 3 bilhões de anos, e que os seres humanos fizeram seu advento há um milhão de anos ou talvez até 2,5 milhões de anos. No entanto, afirmar que a vida em si começou em uma dessas épocas, ou que a vida humana surgiu ao mesmo tempo em que os primeiros seres humanos apareceram, é algo questionável. A vida e os seres vivos já existiam muito tempo antes de tomarem uma forma perceptível nesta terra. Da mesma maneira, continuarão a existir por toda a eternidade e por meio de incontáveis encenações do drama da vida e da morte.

Há pouco tempo, alguém me perguntou se uma pessoa exausta desta vida poderia se livrar dela por completo cometendo suicídio ou pagando alguém para tirar sua vida. A resposta, que é “não”, está implícita na citação: “Essa mente não é aniquilada nas chamas do fim de um kalpa, não é destruída por enchentes, não pode ser ferida por uma espada nem perfurada por uma flecha”. Como todas as formas de vida sempre existiram com o universo, elas são indestrutíveis. Emprestando a terminologia do Dr. Okabe,1 a energia cósmica — a fonte inesgotável das atividades físicas ou espirituais — funciona de acordo com a lei de conservação de energia, ou seja, não é criada nem destruída, por mais transformações ou alterações que tenha sofrido. A vida é inextinguível; portanto, o sofrimento não cessa com a morte.

O trecho que diz que a mente pode ser colocada dentro de uma semente de mostarda ou preencher a vastidão dos céus não pode ser explicado sem se mencionar a não substancialidade (latência), pois é por estar nesse estado que a entidade mística transcende os limites de tempo e espaço. Tendemos a considerar que a não substancialidade é um estado inativo, assim como a água no fundo do oceano, mas, na verdade, é uma condição recarregada com a vibrante energia vital.

A morte também não é estática. Assim como falamos das atividades da vida, podemos falar das atividades da morte, embora sejam invisíveis para nós. Muitas entidades de vida devem desfrutar um período de paz e de tranquilidade após a morte; mas para outras, a morte resulta em inquietude, miséria, tormento e terror. As atividades depois da morte podem ser comparadas às incontáveis ondas de rádio que são transmitidas no ar. Algumas são alegres, trazem música, risadas ou boas notícias; outras propagam ódio e agressividade. Seja qual for a mensagem, nenhuma dessas ondas pode interromper ou obstruir as demais, uma vez que uma não está na mesma frequência da outra. Sem um receptor, não há como detectar a presença dessas ondas. Entretanto, se tivermos um receptor, o que veremos ou ouviremos dependerá da sintonia que escolhermos. Falando de modo amplo, na morte, o “eu” permanece “sintonizado” no estado de vida anterior. Assim como pode haver vida mergulhada na ansiedade e no sofrimento, pode haver outra que se move em ondas de alegria.

As funções, operações ou atividades da morte, embora sejam diferentes em aspecto daquelas da vida, são sustentadas pela mente sem começo nem fim. A morte, por ser una com a vida, é também original e eterna.

Ao mesmo tempo em que manifestamos tanto a vida como a morte, a totalidade de nosso “eu” integra a vida cósmica.

Mesmo na vida de uma pessoa no estado de inferno, o estado mais elevado de buda permanece vivo, pois a energia da Lei Mística permeia as subcorrentes mais remotas da morte. Com profunda compaixão, um buda ilumina as realidades da vida e da morte na exata forma que se apresentam. Esse é o reflexo da percepção de um buda sobre uma realidade fundamental e eterna para todas as formas de vida. Também é a expressão da possibilidade de salvação, que alivia o sofrimento de quem experimenta a morte.



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