terça-feira, 5 de outubro de 2021

um caminho mais certo para a paz

 

soka gakkai

Com o passar dos anos me engajei em diálogos com líderes de vários campos do mundo inteiro. Encontrei- me com diversas pessoas e debati com elas assuntos de diferentes pensamentos filosóficos, culturais e práticas religiosas. Minha crença, fortalecida ainda mais por essa experiência, é a de que o fundamento para o diálogo que o século 21 necessita deve ser o humanismo: um humanismo que vê o bem como aquilo que nos une e aproxima, e o mal, como aquilo que nos divide e isola.

Conforme revejo meu próprio esforço para fortalecer o diálogo nessa direção, ganho nova compreensão da necessidade urgente de redirecionar as energias do dogmatismo e do fanatismo — causas de tantos conflitos extremos — para uma perspectiva mais humanística. Num mundo dilacerado pelo terrorismo e ataques retaliatórios, por conflitos oriundos de diferenças étnicas e religiosas, essa tentativa pode parecer para muitos uma busca sem esperança. Contudo, acredito que devemos continuar fiéis a esse objetivo.

Qualquer visão de mundo incorpora uma ortodoxia, um modo convencional de concepção do planeta. Precisamos, portanto, desenvolver melhor compreensão dos aspectos, tanto os positivos quanto os negativos, dessas ortodoxias ou “ismos” (do dogmatismo e do fanatismo, por exemplo).

Uma ortodoxia pode ser algo positivo e servir para guiar as ações para fins construtivos. Ao mesmo tempo, esses “ismos” podem limitar o pensamento e o julgamento livre das pessoas a um ponto de referência único e exclusivo. Quando essa tendência foge ao controle, “ismos” abstratos podem acabar escravizando a vida de seres reais. Em qualquer época, as ortodoxias podem se inclinar nessa direção.

O fanatismo surge quando esse elemento destruidor se expande além das proporções. Isto pode levar a uma situação em que a vida humana é grotescamente desvalorizada; e a morte, tanto a de si próprio como a de outros, é glorificada.

A verdadeira essência e a prática do humanismo são encontradas no diálogo sincero, de coração a coração. Tanto nas relações diplomáticas entre grandes potências como nas interações diversas entre cidadãos de diferentes nações, o diálogo genuíno possui a intensidade descrita pelo grande humanista e filósofo do século 20, Martin Buber (1878–1965), como um encontro “sobre uma ponte estreita” em que o menor descuido resulta em queda fatal. O diálogo é, de fato, um encontro de alto risco.

As ondas do diálogo se multiplicam e se propagam, e têm o potencial para gerar a mudança da maré que dará melhor rumo às forças do fanatismo e do dogmatismo.

De certo modo, o humanismo sustenta a humanidade, tanto no sentido concreto quanto no abstrato como critério fundamental, mas não procura estabelecer um conjunto de normas fixas de controle de julgamentos e ações. Ao contrário, conduz as ações livres e espontâneas do espírito humano no julgamento e na tomada de decisões.

Com base no que está exposto, gostaria de propor as seguintes diretrizes para a prática do humanismo: quando entendemos que tudo muda dentro de uma interdependência, logo reconhecemos a harmonia e a unicidade como expressões de nossa inter-relação e podemos, ao mesmo tempo, considerar a contradição e o conflito.

Portanto, a luta contra o mal, que resulta do esforço interior para superar nossas próprias contradições e conflitos, deve ser entendida como uma experiência difícil porém inevitável, que devemos superar, para criar uma relação ainda maior e mais profunda.

Na medida em que reconhecemos a realidade da vida como uma luta e compreendemos que por meio dela nossa humanidade é fortalecida, uma entrega corajosa ao conflito torna-se ainda mais crucial. Ao recusarmos a discriminação com base em estereótipos ou em restrições impostas, podemos reconhecer a unicidade subjacente das relações positiva e negativa, e nos engajar com força total no diálogo capaz até de transformar o conflito numa relação positiva.

Creio que esse tipo de humanismo pode nos capacitar a enfrentar o eterno desafio de perceber, manter e fortalecer a paz com o sincero diálogo — tornando-o um caminho mais certo para a paz.


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