quarta-feira, 6 de outubro de 2021

o tipo de diálogo de que o mundo hoje tanto necessita

 

soka gakkai

“Então, o anfitrião disse: Tenho meditado, sozinho, sobre o assunto com indignação. Agora que o senhor chegou, podemos lamentar juntos. Vamos analisar minuciosamente a questão.” (CEND, v. I, p. 7)

O tratado de Nichiren Daishonin Estabelecer o Ensinamento Correto para a Pacificação da Terra, redigido em forma de diálogo entre um anfitrião e seu hóspede, inicia-se com o anfitrião ouvindo sinceramente as angustiantes preo­cupações do hóspede.

O hóspede lamenta o estado deplorável da sociedade causado por fome, epidemias e outras calamidades, e expressa o ardente desejo de acabar com aquela miséria. Com as palavras “Tenho meditado, sozinho, sobre o assunto com indignação” (CEND, v. I, p. 7), o anfitrião demonstra que compartilha da preocupação do hóspede.

Essa preocupação comum representa a abertura para um diálogo sobre como libertar todas as pessoas do sofrimento, transformar a sociedade e criar um futuro mais radiante para a humanidade.

Embora em âmbito diferente, meu diálogo com o historiador britânico Arnold J. Toynbee (1889–1975) também teve como ponto de partida nossas preocupações comuns acerca de como a humanidade poderia trabalhar unida para construir um mundo pacífico. Ele desenvolvera interesse pelo budismo Mahayana e também sentia profunda simpatia pelo nosso movimento budista popular. Isso o levou a me escrever e sugerir que realizássemos um diálogo.

O Dr. Toynbee, que era quase 40 anos mais velho que eu, recebeu-me com o carinho de um pai, e pudemos manter uma interlocução sincera sobre vários problemas que a sociedade contemporânea enfrentava.

Este ano assinala o 45o aniversário do início do nosso diálogo (em maio de 1972), que posteriormente foi publicado em inglês com o título Choose Life [Escolha a Vida]. Até agora, o livro foi traduzido em 28 idiomas e amplamente lido no mundo todo — uma evolução que tenho certeza que deixaria o Dr. Toynbee muito contente.

“Um amigo na sala de orquídeas”

Voltando ao tratado de Daishonin, depois de expressar sua preocupação comum, o anfitrião e o hóspede continuam envolvidos numa discussão acalorada com base em suas respectivas convicções.

Uma por uma, as dúvidas e objeções expostas pelo hóspede vão sendo esclarecidas pelo anfitrião, estabelecendo-se entre eles uma relação de compreensão, empatia e confiança.

Esse fato é descrito pela frase “O senhor uniu-se a um amigo na sala de orquídeas” (CEND, v. I, p. 23). Assim como o aroma das orquídeas perfuma a sala onde elas são colocadas, a fragrância da compaixão do anfitrião envolve o coração do hóspede.

São os admiráveis traços e características pessoais que abrem o coração dos outros e mudam o pensamento deles. Tais qualidades não decorrem de status ou posição social; antes, são uma expressão de como a pessoa vive.

O exemplo de pessoas que, sejam quais forem as circunstâncias ou o ambiente, têm uma existência vigorosa, positiva e confiante, dedicada à felicidade do próximo e ao bem-estar da sociedade, não pode senão comover e inspirar aqueles à sua volta.

Ao abraçarmos a Lei Mística e devotarmos a vida ao cumprimento do grande juramento e à concretização do ideal de Daishonin de “estabelecer o ensinamento correto para a pacificação da terra”, nossa vida, mesmo sem termos consciência disso, adquire uma fragrância tão nobre e refinada como a das orquídeas. Nossos diálogos começam com nossa oração pela felicidade dos outros. Quando baseamos a vida na Lei Mística, todos os nossos esforços para ir ao encontro das pessoas, conversar com elas e possibilitar que formem um elo com o budismo as ajudarão a revelar seu próprio potencial interior.

Juramento conjunto é o propósito do diálogo

Na conclusão do seu tratado, o hóspede expressa sua determinação: “Mas não basta que somente eu aceite e tenha fé em suas palavras, devemos também advertir outras pessoas sobre os erros que elas cometem” (CEND, v. I, p. 26). O texto, portanto, termina com o hóspede e o anfitrião firmando um juramento conjunto. Isso demonstra claramente o verdadeiro propósito do diálogo que estamos travando. Acima de tudo, ampliar o número de pessoas conscientes da veracidade da Lei Mística e compartilhar o juramento comum de tornar o mundo um lugar melhor é o ímpeto para a construção de uma sociedade pacífica. O diálogo direcionado para o “estabelecimento do ensinamento correto para a pacificação da terra”, que enobrece preocupações compartilhadas transformando-as num juramento conjunto, com certeza se converterá numa pedra fundamental para a paz mundial.

O diálogo promovido pelos membros da Soka Gakkai é alimentado pela crença na natureza de buda de todas as pessoas. Despertar a natureza de buda nos outros é a chave para consolidarmos nossa própria felicidade e a dos demais também. Isso porque a convicção comum em nosso próprio potencial e no das outras pessoas, para atingir o estado de buda, tem o poder de transcender todas as diferenças e se tornar a base da felicidade e da paz. É exatamente esse tipo de diálogo de que o mundo hoje tanto necessita.



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