Pergunta: Em seu Diário da Juventude,2 encontrei a seguinte passagem:
Chuva suave. Terminei de ler O Conde de Monte Cristo no escritório. A leitura desenvolve a sabedoria e nos permite acumular conhecimento. Também aumenta a nossa capacidade de ler e compreender o Gosho [escritos de Nichiren Daishonin]. Certa vez, alguém disse: “Leia a vida inteira, nem que seja apenas 30 minutos por dia. No transcorrer dos anos, esse acúmulo resultará numa quantidade monumental de leitura”.
Ikeda: É verdade. Guardo boas lembranças dessa época descrita em meu diário. A leitura de obras literárias é uma ferramenta indispensável para compreender o Gosho. Tanto o Gosho como a literatura retratam a experiência humana. Podemos perceber nas palavras de Nichiren Daishonin um ardente e profundo desejo de libertar a humanidade dos sofrimentos, uma ira contra a maldade e um brilho humano que penetra no coração das pessoas. (...)
A literatura retrata as complexidades do coração humano. Se vocês estiverem determinados a se tornar verdadeiros humanistas, devem ler as grandes obras literárias. Livros baratos, escritos de forma negligente ou que somente proporcionam diversão não podem ser considerados literatura, pois não exploram o significado da vida. É claro que os livros técnicos e de não ficção são importantes e possuem seus propósitos particulares, no entanto, a literatura é uma linha vital e insubstituível para toda a humanidade.
Pergunta: “O que a literatura pode fazer diante de uma criança faminta?” Tal como essa pergunta feita numa entrevista, muitos denunciam a impotência da literatura por serem meras palavras que não podem mudar as circunstâncias ou ajudar os que estão sofrendo.
Ikeda: A ajuda mais importante que podemos dar aos outros é a espiritual. Somente quando se dá a ajuda espiritual é que a ajuda financeira e material podem servir de benefício. A leitura de obras literárias nos faz refletir sobre os sofrimentos alheios, encorajando-nos a ir ao encontro das pessoas com um sincero sentimento de preocupação e benevolência. É a partir de tal sentimento que surge a benevolência em sua forma mais genuína.
As grandes obras literárias são necessárias tanto para a criança que está passando fome como para aqueles que estão ajudando a criança. O budismo ensina que “a voz executa o trabalho do Buda”.3 Nossa voz e nossas palavras possuem a força para conduzir as pessoas à felicidade. Necessitamos grandemente de palavras que manifestem uma profunda preocupação. A habilidade para se expressar satisfatoriamente surge da compreensão da literatura e da familiarização com ela. Por não possuírem essa base, as palavras da maioria dos políticos japoneses são falsas e vazias.
No prefácio de Os Miseráveis, Victor Hugo observa: “Enquanto a ignorância e a miséria persistirem na Terra, livros como este continuarão possuindo seu valor”.4 Pode-se dizer que a literatura é o que nutre o desejo de salvar a criança faminta, então, a partir daí, a ação é tomada e a ajuda financeira e material são concretizadas.
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